IA Washing: o que é, como identificar e prevenir multas
O que é IA Washing, como identificar empresas e profissionais que usam o termo inteligência artificial de forma enganosa e por que essa prática pode sair caro — inclusive com multas milionárias.
Felipe Pener
7/21/20256 min read


Em 2024, a SEC dos Estados Unidos aplicou uma multa de US$ 400 mil a duas empresas financeiras que afirmavam usar inteligência artificial para tomar decisões de investimento. Na prática, as decisões continuavam sendo feitas por humanos. A acusação? IA washing.
Essa é a versão tecnológica do já conhecido “greenwashing”: prometer algo moderno, sustentável ou inovador — sem entregar de verdade. E a coisa está ficando séria. Em países como Austrália e Reino Unido, o uso enganoso de IA pode gerar punições que chegam a 10% do faturamento global da empresa.
Ou seja: fingir que usa inteligência artificial pode custar caro.
Mas esse fenômeno não se limita ao mundo corporativo. No LinkedIn, Instagram e no universo das palestras e mentorias, o IA washing virou commodity — praticado diariamente por profissionais que se vendem como referência no assunto, mesmo sem qualquer base técnica ou projeto real.
O que é IA washing?
IA washing é o uso falso, exagerado ou superficial do termo “inteligência artificial” para parecer inovador ou à frente do mercado. A prática ocorre quando:
a empresa não usa IA, mas diz que usa;
a solução aplicada não é IA, mas é vendida como tal;
há uso raso de tecnologia, sem autonomia, adaptação ou inteligência real.
O objetivo do IA washing é um só: capitalizar em cima da hype da IA — seja para atrair investimento, ganhar autoridade, fechar vendas ou parecer moderno no mercado.
IA washing nas empresas: o rótulo é mais bonito que a entrega
Muitas empresas hoje afirmam “usar IA” como argumento comercial. Mas, na prática:
apenas automatizaram planilhas com fórmulas;
aplicaram regras simples com lógica “se/senão”;
usam sistemas estáticos que nada têm de inteligente.
Em alguns casos, o produto não contém IA alguma — mas o marketing faz parecer que sim.
O IA washing corporativo é o que gera risco legal. E também é o que causa maior erosão de confiança no longo prazo.
IA washing nos especialistas de LinkedIn: o novo teatro da autoridade
O IA washing também ganhou espaço nos perfis profissionais. Gente que:
assistiu três vídeos no YouTube sobre ChatGPT;
pediu cinco textos para a IA com prompt genérico;
leu um post no Medium sobre o futuro da tecnologia.
E pronto: agora é “especialista em IA aplicada ao marketing”, “estrategista de IA generativa”, “consultor de inovação com foco em inteligência artificial”.
Essas pessoas não conhecem API, não sabem o que é um embedding, não implementaram uma automação funcional e nunca lidaram com IA em cenário real. Mas estão vendendo curso, palestra, mentoria e até consultoria de implantação.
E o pior: estão ganhando dinheiro com isso.
IA washing dá dinheiro — e não é de hoje
É importante deixar claro: muita gente que vende IA superficial está ganhando mais do que quem trabalha sério com a tecnologia.
Isso não é novidade. Aconteceu com o marketing digital (likes em vez de leads), com o design (portfólio bonito sem resultado), com os criptoativos (promessa de lucro sem lastro).
Não confunda faturamento com profundidade.
IA washing fatura.
Mas entrega real, com lastro técnico e impacto, constrói reputação.
Como evitar cometer IA washing na sua empresa
Antes de dizer que usa inteligência artificial, questione:
Estamos realmente aplicando IA ou apenas automatizando regras simples?
Existe ganho de eficiência, aprendizado ou adaptação na solução?
Estamos vendendo a solução como “inteligente” apenas para parecer modernos?
Essa mesma solução já existe sem o rótulo de IA — e estamos apenas envelopando com nome novo?
Temos alguém técnico capaz de explicar e sustentar o uso de IA?
Documentamos como a IA é usada, onde, por que e com que efeito?
Responder isso com sinceridade já reduz muito o risco de escorregar no IA washing — mesmo sem intenção.
Como evitar contratar prestadores que praticam IA washing
Peça demonstração funcional. Se alguém afirma usar IA, peça para mostrar, na prática, como funciona.
Desconfie de soluções genéricas e promessas grandiosas. Termos como “IA que resolve tudo”, “automatize tudo com inteligência artificial” geralmente escondem entregas rasas.
Analise cases com profundidade. O que foi resolvido? Qual IA foi usada? Com que resultado?
Prefira quem começa fazendo perguntas. Bons profissionais investigam o problema antes de sugerir a solução. E às vezes, a solução nem é IA — e tudo bem.
Aprender IA: dois caminhos possíveis
1. Para quem quer desenvolver com IA (tecnologia, automação e produto)
Se seu objetivo é usar IA em aplicações técnicas — como criar produtos, integrar APIs, automatizar processos e construir soluções — você vai precisar aprender fundamentos como:
lógica de prompt,
manipulação de texto com Python,
conceitos como embeddings, vetores, memória de contexto, agentes e RAG.
Recomendações (experiência pessoal):
Asimov Academy: curso técnico com foco em IA aplicada, integrações e projetos reais.
Hashtag Treinamentos: excelente para quem está começando em automações, lógica e produtividade com Python.
Também vale explorar certificações das big techs:
Tudo com conteúdo prático e direto ao ponto.
2. Para quem quer usar IA no dia a dia da profissão
Não fiz curso, não assisti tutorial, não segui guru. Fui testando. E foi assim que entendi o que realmente muda o jogo na hora de usar IA no dia a dia: contexto é tudo.
Você não precisa saber programar. Mas precisa aprender a explicar bem o que quer, com informações reais, exemplos, objetivos claros e limites do que funciona pra você.
A IA não adivinha. Ela responde com base no que você entrega.
Em vez de:
“Melhore esse texto.”
Experimente:
“Esse é um texto que escrevi para um post no LinkedIn. Quero que ele soe mais direto e menos formal, como se eu estivesse falando com outros profissionais de marketing. A ideia é gerar curtidas, mas também conversas nos comentários. Pode reescrever mantendo o conteúdo principal?”
Parece mais trabalhoso? É mesmo. Mas quanto mais tempo você investe dando contexto, menos tempo você perde com resposta ruim.
Use a IA como um parceiro de projeto — e não como um botão mágico
No próprio ChatGPT, você pode criar projetos separados, adicionar arquivos, manter um histórico de contexto e até configurar instruções permanentes sobre sua forma de trabalhar. Isso permite que você converse com a IA como se fosse um estagiário que te acompanha há meses, não alguém que acabou de chegar.
Está escrevendo uma tese? Sobe os capítulos anteriores.
Está desenvolvendo um produto? Envia o briefing, seus objetivos e as referências.
A IA pode cruzar tudo isso nas próximas respostas — e é aí que ela realmente começa a entregar valor.
🛑 Mas cuidado: não mande dados sensíveis, como documentos pessoais, contratos confidenciais, dados de clientes. Por mais que o sistema seja seguro, você é o responsável pelo que compartilha.
Dicas práticas que funcionam:
1. Contexto é mais importante que o comando.
"Sou analista de CRM, criei esse fluxo de e-mail para clientes inativos. Você pode revisar a ordem dos disparos e sugerir ajustes no texto com foco em reconversão?"
2. Dê exemplos do que quer.
"Esse post precisa ter um tom parecido com esse aqui [colar exemplo]. Quero seguir essa linha."
3. Traga o problema real — não a solução pronta.
"Estou com dificuldade em explicar esse conceito de forma simples. Pode sugerir analogias ou formas diferentes de abordar?"
4. Reutilize e ajuste as respostas.
"Ficou bom, mas quero algo mais informal, como se fosse uma conversa de WhatsApp. Pode reescrever nesse estilo?"
A IA responde melhor quando você trata como um copiloto estratégico, não como um robô que adivinha seus desejos. Ela vai tão longe quanto você conseguir explicar.
A IA é uma aliada poderosa — desde que você saiba onde quer chegar.
Conclusão: IA washing é barulho. IA real é entrega.
O IA washing vai continuar existindo.
Vai vender curso, encher palco, alimentar ego e dar dinheiro a muita gente.
Mas quem resolve problema real com IA vai continuar relevante — mesmo quando o hype passar.
Se você trabalha com inteligência artificial e precisa dizer isso a cada linha… talvez ainda esteja tentando se convencer.
Quem realmente usa, não precisa repetir. Mostra.
FAQ: perguntas frequentes sobre IA washing
O que é IA washing?
IA washing é o uso falso, exagerado ou enganoso do termo “inteligência artificial” em produtos, serviços ou posicionamentos profissionais, sem aplicação real.
Quais empresas já foram multadas por IA washing?
A SEC multou duas empresas em US$ 400 mil nos EUA. A FTC também está investigando outras por marketing enganoso. Na Austrália e no Reino Unido, multas podem chegar a 10% do faturamento anual.
Como evitar cometer IA washing?
Seja honesto sobre o uso da tecnologia. Entenda o que está sendo aplicado e por que. Evite exageros e rótulos desnecessários.
Como identificar IA washing em fornecedores e consultorias?
Peça demonstrações reais. Desconfie de soluções vagas ou apresentações genéricas. Prefira quem analisa seu problema antes de sugerir uma solução.
Vale a pena aprender IA mesmo com tanto ruído?
Sim. O ruído é passageiro. Quem aprende com profundidade vai continuar entregando — e se diferenciando — quando o modismo passar.
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